Gustavo
acordou tarde da noite, seus olhos cansados que clamavam por um descanso
estavam semicerrados, tentando se acostumar com a luz. Luz? Que luz? Ele se
lembrava quando deslizou pelo quarto e apertara de leve o interruptor e tudo
ficou escuro. Mas agora que se levantou, percebeu que a luz não vinha de sua própria
casa, mas sim, escapava pelas brechas da cortina e inundava seus aposentos.
Alguns feixes irregulares de luz dançavam criando sombras nas paredes.
Agora que a
luz iluminava e podia se deparar com o espelho fixado na parede: sua aparência
era deplorável, embora calma. Tinha várias camadas de pele embaixo dos olhos,
cobertas de roxo, e os cabelos, que outrora já foram loiros, adquiriram um tom
de branco cada vez mais frequente, demonstrando seus cinquenta e tantos anos.
Estava mais acordado
e atento e por isso já conseguia ouvir conversas: conversas altas, risadas
escandalosas e uma música horrível.
— Silencio!
Ele berrou. As
conversas pararam, as risadas calaram-se e a música cessou. Também a luz se
apagou e tudo ficou em silencio. Satisfeito, Gustavo voltou para as agradáveis dobras
de suas cobertas.
De repente, a luz
acendeu, as conversas e risadas voltaram e a música recomeçou. Gustavo ficou
vermelho de raiva.
“Vou ter que falar
pessoalmente com o vizinho!”
Livrou-se das
cobertas e disparou para a porta. Estava fora quando tudo cessou novamente. Já tinha
meio caminho andado e decidiu não voltar. Abriu o portão do vizinho e separou
as mãos para bater palmas quando a luz acendeu e todos gritaram:
— Surpresa!
Então ele se
deu conta de que estava tão cansado que acabou esquecendo do próprio
aniversario.

